havia um Lula na antecâmera da Morte e Vida Amarilda




(foto de Ricardo Stuckert)


é, eis um que errou feio,
e muito,
a estratégia...

supôs,
sabe-se lá por quais
equívocos teóricos
e práticos,
supôs que,
por ter assumido,
para dar uma data,
desde a derrota de 1989,
que a pauta deveria ser
a engorda dos corvos,
acima de tudo,
e o Brasil acima de todos,
supôs que isso garantiria
direito adquirido sobre os farelos
distribuídos ao resto da fauna
na senzala,
e supôs que todos,
corvos
e fauna sobrante,
seguiríamos adiante a sua obra.

Em três anos, tudo se desmanchou,
acabou a festa,
e o José de nove dedos?
e agora?,
é só outra vítima dos esbirros
engordados na surdina
o tempo todo.

E esses engordados na surdina o tempo todo,
agora saíram da tocaia
onde rolou o acúmulo de força,
(em algum lugar essa
teoria funciona, afinal)
e voltam a executar outra
volta no parafuso,
a queimar a rosca
da velha matável vida severina.

Quanto a nosotros,
direto dos velhos
sete palmos sob a terra,
damos as boas-vindas
ao velho severino, de volta
à cova contra a qual,
de efetivo mesmo, 
no frigir dos ovos,
sobra-nos o delírio das
mensalidades de um carro
e planos de um celular,
delirante modelo de
integração pelo consumo
bastaria como solo,
mola propulsora,
movimento de arranque
que escapasse ao jugo
do grande irmão, ianque.

E mais: a casta endinheirada,
crosta de séculos,
poderosa contra os fracos,
débil ante os fortes,
desistiu de ser nação,
e se faz o que fez 
com presidentes eleitos
para dirigir um ex-Estado,
Dilma e Lula,
essa casta de farelos que se julga
acima do bem e do mal,
que enfia-nos goela abaixo
novo padrão de execuções
e massacres,
massacres reais como o de
uma vereadora
Marielle,
massacres simbólicos como contra legado
do Chico Mendes,
essa casta de prepostos do Big Brother,
que pisoteia e falseia
o que resta da memória
dos que resistem,
de todos que dizem não
a essa casta de decrépitos gagás
jovens, bem-apessoados,
franjinha na testa,
olhar deslumbrado,
corte militar irado,
que apenas humilham, 
exterminam,
silenciam
dezenas de centenas de tantos 
tombados em lutas,
essa casta a escarrar seu ódio de classe
contra perseguidos políticos,
equivocados ou não,
revisionistas ou não,
contra os encarcerados, 
silenciados, censurados,
internados, enquadrados,
revisionistas cujo maior erro
foi crerem
na finada fantasia liberal
“estado de direito”,
fantasia por sua vez
morta de morte matada
com requintes de crueldade
no opróbrio
do anonimato da longa
noite escura, 
já dura de 50 anos?
em cima de outros cinquenta?
e outros? e mais outros?
longa noite de exceção,
cujas trevas
finalmente
arrombam portas
do andar de cima,
da sala dos que comem bem,
dos que dormem o sono
pacificado dos justos,
dos informados de boa fé
que dão bom dia
à bela alma a lhes acenar
do lado de lá do espelho
quando a gestão
e a disputa política,
tingida de correlação de forças
e de governabilidade,
concede-lhes a mínima
brecha temporal
para se mirarem no espelho
ao escovarem
os dentes pela manhã,
então pergunto:
que jogo armam os
sorridentes abutres,
que fazem isso
contra tantas pessoas dignas?
que regras de jogo
podemos imaginar
estarem elaborando
contra nós?
que jogo político dos infernos
é esse, tecnicamente respaldado
por aparatos judiciários,
policiais, midiáticos,
legislativos, religiosos?
o que afinal estão a tramar,
sob o silêncio cúmplice
dos grandes e dos miúdos? 
quais Leitos de Procustos,
sob aplausos
de corvos e asnos,
mulas
desse capitalismo de compadres,
de ame-o ou deixe-o?
o que essa fauna inteira 
que se volta contra nós,
os sem-voz,
a nos capturar,
se fazem isso com Dilma e Lula,
o que planejam fazer conosco?
com quais redes policializadas,
pescarão nossos corpos,
nós, 
meros Amarildos?
qual a vala-comum preparam para nós,
cuja quota de equívocos
é seguirmos,
nessa massa falida
batizada de Brasil,
regada pelo presente eterno
de ódio e violência generalizada,
que se arma contra nós,
cujo limite é seguirmos
molambentos
nossas matáveis
anônimas,
consumistas
esfarrapadas
vidas
severinas?



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