áudio: Paulo Arantes analisa uma 'conjuntura demoníaca' sob um horizonte brasileiro de expectativas [UnB, 8/out/19]

No oitavo dia de outubro de 2019, cerca de um ano após a eleição de Bolsonaro, Paulo Arantes foi o professor convidado para fazer a fala da abertura oficial da VI ENPGFIL-UnB (Encontro Nacional na Graduação em Filosofia, Universidade de Brasília, link para a programação do evento aqui), evento organizado por um grupo de graduandos do curso de filosofia que tem por tema “Para a crítica de formas de vida: poder e desobediência” (cf. ainda, no final desse post, poster do Encontro bem como dessa conferência em particular e mais algumas fotos). Como debatedor, Giovanni Zanotti, e na mediação da mesa, eu, Gilberto Tedeia.

Entretanto, Arantes iniciou sua fala desculpando-se por se afastar do tema oficial do encontro, "mas um afastamento literal, não de espírito: vai tratar do óbvio, o que está rolando no Brasil e no mundo e que todo mundo está interessado em decifrar" e que se fosse dar um título à conferência, seria uma "análise da expressão 'conjuntura demoníaca' sob um horizonte brasileiro de expectativas", então fica sendo esse o título.

Imagino que as 2h11 de fala, acrescidas de 1h17 do debate totalizariam cerca de 80 laudas transcritas que já se bastariam para a composição do mapa do que aconteceu, apenas deixo registradas algumas impressões genéricas desse mediador que vos fala, que, entretanto, ante o maremoto de "mais do mesmo", talvez às vezes prefira se calar quando o que muitos dos que escutam Paulo Arantes em busca de "posicionamentos", quando muito o que esperam seja alguma fraseologia que reponha em chave reflexionante uma resposta à velha pergunta "que fazer?". Sendo por isso mesmo que eu prefira registrar apenas uma breve impressão (as aspas abaixo ou são referências não explicitadas às ideias de alguém, em sua maioria do próprio Arantes, ou só mera ironia mesmo, a distinção fica por conta do leitor).

Na condição de herdeiro bastardo de um projeto de formação crítica que no máximo faria de mim um "radical de classe média" (para retomar uma fórmula de Antonio Candido, que sempre merece citação), só teria a dizer ser uma pena inexistirem espaços para pareceres/lectures/textos que não apenas "aparecem", mas de fato "pensam" as consequências da configuração (estrutural e conjuntural) da "fratura brasileira do mundo".

A fala de ontem soma-se aos esforços para sim delimitar uma barreira concreta a certa aceleração do tempo impostas às nossas práticas e atividades próprias à nossa atividade (afinal, lidamos com ideias e práticas de modo conceitual, histórico, materialista e antissistêmico). 

Serve para poder falar à imaginação teórica dos que insistem em seguir com o diagnóstico de um agir prático-intelectual-militante que se recusa a sucumbir ao imperativo não-dito imposto como plácida barreira à atuações de coletivos e "desgarrados" que ainda resistem aos diferentes "sujeitos políticos" que não passam (em nome de certo realismo de alguma filiação institucional qualquer) de meros "fazendeiros do ar" a capinar negociações com a "marcha realista das coisas" nesse grande teatro do mundo, inclusive o acadêmico.

Dá certo alento dar-me conta de que não "servimos para mais nada", ao cabo e ao resto, se não explicitarmos que "não servimos" para mais nada caso sejam naturalizadas as "pressões por respostas imediatas" que escondem "atuações políticas" em "disputas por poder" bem-intencionadas, mas sem qualquer denominador comum com um compromisso histórico com esse distante "iluminismo tardio" que foi o "fruto não desejado" daquele implante da "universidade que formará quadros" para um determinado projeto de nação, entre militar e oligárquico, datado e derrotado por outro projeto de captura e rendição incondicionados à barbárie e à rendição voluntária aos "ares dos tempos".

O conjunto do exposto ontem serve para descobrirmos pelo menos quais os erros de leitura foram impostos como verdades, em uma espécie de "autocrítica sem autocomplacência" que confere hoje novo sentido àquela impotência do diagnóstico de tantos militantes do começo da década que diziam "batemos no teto" ainda lá dentro das disputas por poder naquele espaço de reconfiguração das políticas públicas (entre compensatórias e focalizadas) na Era de Ouro do Lulismo de Resultados pós-2008, naquele cenário da "marolinha".

O balanço exposto é um lavagem de roupa suja de tantas leituras e táticas que organizaram lutas e pautas políticas: se tudo deu errado, que ao menos possamos decifrar onde erramos, e a fala de ontem (a reconfigurar aqueles 20 anos,  2004-2014, de congelamento provisório do esfarelamento desenhado na fala) conseguiu desmontar vários desenganos espalhados como bombas de efeito retardado que agora estão florescendo em apocalíptico esplendor com essa "aceleração do fim".

Serve, por fim, para seguirmos na aposta de que é lá na "base" da produção acadêmica, mas apenas aquela pouca atividade de pesquisa ainda não capturada pela lógica do ganha-pão, que se pode reunir alguns elementos para que, lá na frente, possam ser tecidas falas como de ontem.

É isso. 

A seguir, links para baixar os dois áudios:

1) é o da fala de Arantes, Análise da expressão 'conjuntura demoníaca' sob um horizonte brasileiro de expectativas [VI ENPGFIL-UnB, 08-out-2019], aqui ou então aqui.

2) e o comentário mais debate, aqui ou então aqui. E algumas imagens referentes ao evento.

O cartaz do VI ENPGFIL-UnB

Da conferência:



Da mesa em andamento:


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